COM MARIA, ALEGREMO-NOS SEMPRE NO SENHOR E SEJAMOS MISSIONÁRIOS PERSEVERANTES !

13 de mai. de 2010

O VERDADEIRO SENTIDO DO DOMINGO

Instituto de Teologia Paulo VI

Nossa Diocese escolheu viver seu centenário profundamente unida à Ação de Graças de seu Senhor. Por isso celebra, em 2010, um Ano Eucarístico-Missionário, para redescobrir e revalorizar o sentido do Domingo, para redescobrir e revalorizar o Mistério da Fé, e para lançar-se em Missão, alimentada com o Pão da Palavra e com o Pão da Eucaristia.

Hoje a vida mudou. O Dia do Senhor deixou de ser, para a grande maioria, a Páscoa de cada semana, que revigora os discípulos no caminho, como foi desde o início (Lc 24,13-35). Para muita gente, sobretudo para os jovens, virou “fim-de-semana”, o “weekend” que começa depois do trabalho, na sexta-feira, culmina nos “embalos” de sábado à noite, e acaba na ressaca do dia seguinte... Para a indústria do turismo, ocasião de “aquecer” o comércio, as viagens, a hotelaria... Para tantos outros, sobretudo nas grandes cidades, obrigados às exigências da luta por sobreviver, é mais uma jornada de trabalho, de fadigas e até mesmo, muitas vezes, de exploração. Como pode o coração “arder de entusiasmo no caminho”, se ninguém explica as Escrituras? Como pode alguém abrir a porta, acolher o outro, se não tem tempo para nada? O que vai anunciar para a alegria dos irmãos quem não recebeu em si, no partir do Pão, a alegria do Ressuscitado?
A alegria cristã não se opõe às verdadeiras alegrias humanas. Celebrar o Domingo como Dia do Senhor não significa cumprir um dever pesado, uma lei desmancha-prazer imposta pela Igreja ao povo. É exatamente o contrário! O Papa João Paulo II, em sua Carta Apostólica Dies Domini afirma que “as verdadeiras alegrias humanas ficam enaltecidas e encontram o seu fundamento último precisamente na alegria do Cristo Glorificado (cf. At 2, 24-31) (Carta Apostólica sobre a santificação do Domingo, 28).
Desde que as primeiras testemunhas “viram o Senhor” ressuscitado dos mortos (Jo 20,25), passaram a reunir-se no primeiro dia da semana para celebrar sua Presença. Além da narração catequético-litúrgica da experiência dos discípulos de Emaús, no Evangelho de Lucas, encontramos no Novo Testamento muitas expressões da consciência que a Comunidade Primitiva tem do mandato de Jesus: Fazei isto em memória de mim. Segundo o livro dos Atos, “eles se mostravam assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (2,42).
Em sua “Primeira Apologia em favor dos Cristãos”, Justino aponta os elementos essenciais da celebração eucarística: “Não é pão ou vinho comum o que recebemos. Do mesmo modo como Jesus Cristo, nosso Salvador, se fez homem pela Palavra de Deus, e assumiu a carne e o sangue para a nossa salvação, também nos foi ensinado que o alimento sobre o qual foi pronunciada a ação de graças com as mesmas palavras de Cristo e, depois de transformado, nutre nossa carne e nosso sangue, é a própria carne e sangue de Jesus que se encarnou. Os apóstolos, em suas memórias que chamamos evangelhos, nos transmitiram a recomendação que Jesus lhes fizera. Tendo ele tomado o pão e dado graças, disse: Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim (Lc 22,19; Mc 14,22). E tendo tomado igualmente o cálice, e dando graças, disse: Este é o meu sangue (Mc 14,24), e os deu somente a eles. Desde então, nunca mais deixamos de recordar estas coisas entre nós. Com o que possuímos, socorremos a todos os necessitados, e estamos sempre unidos uns aos outros. E por todas as coisas com que nos alimentamos, bendizemos o Criador do universo, por seu Filho Jesus Cristo e pelo Espírito Santo. No chamado dia do Sol, reúnem-se em um mesmo lugar todos os que moram nas cidades ou nos campos. Lêem-se as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, na medida em que o tempo permite. Terminada a leitura, aquele que preside toma a palavra para aconselhar e exortar os presentes à imitação de tão sublimes ensinamentos. Depois, levantamo-nos todos juntos, e elevamos as nossas preces. Como já dissemos acima, ao acabarmos de rezar, apresenta-se pão, vinho e água. Então o que preside eleva ao céu, com todo o seu fervor, preces e ações de graças, e o povo aclama: Amém! Em seguida, faz-se entre os presentes a distribuição e a partilha dos alimentos que foram eucaristizados, que são também enviados aos ausentes, por meio dos diáconos. Os que possuem muitos bens, dão livremente o que lhes agrada. O que se recolhe é colocado à disposição do que preside. Este socorre os órfãos, as viúvas e os que, por doença ou qualquer outro motivo, se acham em dificuldade, bem como os prisioneiros e os hóspedes que chegam de viagem. Numa palavra, ele assume o encargo de todos os necessitados. Reunimo-nos no dia do Sol não só porque foi o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria, criou o mundo, mas também porque neste mesmo dia Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos (Cap. 66-67)”.
O Ano Eucarístico-Missionário é um convite a dizer um grande “Basta!” ao fim-de-semana vazio, quando não violento e trágico. Somos filhos de Deus, somos todos irmãos! Somos herdeiros de gerações e gerações que perseveraram na graça da vida nova, vivendo segundo o Domingo! Temos o sagrado dever e o bendito direito de consagrar o primeiro dia da semana à Memória do Mistério Pascal do Senhor, fonte de nossa vida na comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Um convite a todos os batizados a “entrar no repouso do Senhor” para deixar que Ele nos arraste para dentro de Si, e assim nos alimentemos de sua Palavra e do Pão descido do Céu, para nos tornarmos “pão repartido” para os irmãos. “Entrar no repouso do Senhor” para o descanso do corpo e da mente, que repõe as energias e reorienta nossa consciência e nossos passos na perspectiva do Evangelho do Reino. “Entrar no repouso do Senhor” para conviver e dialogar, em família e na Comunidade, para intensificar a vida social, em seu mais elevado sentido: o nosso ser-com e ser-para os outros. “Entrar no repouso do Senhor”, enfim, para partir em missão, para dar testemunho nos dias comuns da semana e anunciar a todos que “vivemos segundo o Domingo”, na famosa expressão de Santo Inácio de Antioquia, nos primórdios da Igreja.
O Papa Bento XVI, escrevendo sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja, sublinhou sua dimensão missionária: “Aquilo de que o mundo tem necessidade é do amor de Deus, é de encontrar Cristo e acreditar nele. Por isso, a Eucaristia é fonte e ápice não só da vida da Igreja, mas também da missão: uma Igreja autenticamente eucarística é uma Igreja missionária. Verdadeiramente, não há nada mais belo do que encontrar e comunicar Cristo a todos! Aliás, a própria instituição da Eucaristia antecipa aquilo que constitui o cerne da missão de Jesus: ele é o enviado do Pai para a redenção do mundo (Jo 3,16-17; Rm 8,32). Na última Ceia, Jesus entrega aos seus discípulos o sacramento que atualiza o sacrifício que ele, em obediência ao Pai, fez de si mesmo pela salvação de todos nós. Não podemos abeirar-nos da mesa eucarística sem nos deixarmos arrastar pelo movimento da missão que, partindo do próprio Coração de Deus, visa atingir todos os homens; assim, a tensão missionária é parte constitutiva da forma eucarística da existência cristã (Sacramentum Caritatis 84).

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